terça-feira, 14 de agosto de 2018

Terra

Foram longos e penosos os dias de ausência. Continuam a ser. A minha agulha já não aponta o Norte e, até agora, não tem havido GPS que me valha. Até parece que me apagaram as marcas de terra. E mesmo a prumar à mão não me safo. As marés trouxeram-me para terra. Dei à través e ainda vai levar o seu tempo até que consiga regressar à faina. Sei que tenho de ser valente como o meu Avô Joaquim Caturra me ensinou. Sei que tenho de agradecer – e agradeço – a todos os que me têm apoiado, sobretudo o mui nobre e Grande Homem e Mestre António Piedade. Para quem quiser continuar a acompanhar os meus devaneios escritos poderá fazê-lo em aliceversusespelho.blogspot.com. Obrigado a Todos.


Valente
 
(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Surpresa

Nem só de polvo vive este meu quotidiano salgado. Cada dia no Mar é um dia diferente. Por vezes, a surpresa acontece. O nosso regresso a terra foi brindado pela companhia de vários golfinhos. Fintavam a proa. Curiosos. Velozes. Graciosos. Olhavam para mim. Eu olhava para eles. Deixei a minha sandes a meio. Não me importei. Quando entenderam, mudaram de rumo e seguiram as suas vidas, ao encontro do restante grupo. Livres.

Livres
 
(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Dança

Rajadas de Oeste marcaram o ritmo da labuta de hoje. Atrevo-me a dizer que quem não sabe dançar, depressa começaria a mexer as pernas e a apanhar o jeito das vagas. O vento, esse, assobiava nos ouvidos. Os olhos ardiam, a boca tinha um sabor diferente, o nariz pingava e a barba desafiava qualquer esfregão de arame. Era o sal. O azul fundia-se no cinzento e a dança continuava. Mas não fomos os únicos bailarinos...

Bailarino

 (Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Regresso

A semana terminou. Foi mais curta. Houve mão do vento, forte, muito forte, que se fez sentir. Só houve condições para duas fainas. A vida no Mar é assim mesmo: todos os dias são diferentes e nada é garantido. Cada viagem é sempre um desafio e uma surpresa. Quando o polvo falha ou a meteorologia não ajuda, temos de nos conformar. No entanto, um simples regresso a terra pode revelar uma nova tela, repleta de tons vivos e resplandecentes. A maresia toca a sua melodia e deixamo-nos embalar. E é tão fácil perder-me no horizonte.

 Tons

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Lendário

Fúria. Inclemência. Revolta. A Força, pura, toda ela da Natureza. Um gáudio para os meus sentidos. Vida. E sentir o privilégio de ali estar, de ser respeitosa testemunha de tal manifestação dos elementos. Ali, na ponta do lendário promontório, vive um monstro adormecido, indiferente à passagem das eras. Não é uma serpente marinha. De sereia tem muito pouco. Acredito que o Adamastor lhe faria uma genuína vénia. Ganha vida com a investida das ondas. Mas não as deixa tomar o seu território. Sente-as nas suas entranhas, firme, para logo de seguida as expulsar. O seu fogo é salgado. A sua ira é ensurdecedora. Até o próprio espectro fica estarrecido. Tudo isto sem precisar de abrir os olhos. A verdade é que os séculos vestiram-no de paciência e adornaram-no de sabedoria. Afinal, também existem dragões no Mar. Eu vi.

Dragão

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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Janela

Ainda não fomos ao Mar esta semana. Vento. Muito vento. Impaciente, observo o Mar pela janela. Tão perto e tão longe. O dia é diferente. O corpo começa a reclamar e a cabeça não é a mesma. Falta sal. A comida não tem o mesmo gosto. O descanso não tem o mesmo efeito. A soldo da noite ouço o rugir dos motores daqueles que já deixaram o porto. A meteorologia deverá dar tréguas. Esta madrugada zarpamos.
 
  Covo
 
(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)